Indisciplina nas Escolas: Um Sinal de Alerta

Indisciplina nas Escolas: Um Sinal de Alerta para a Educação

(Uma leitura do Estudo TALIS 2024)

Em qualquer sociedade desenvolvida, a Educação é, para além de espaço de partilha e aquisição de conhecimentos, lugar de construção de cidadãos responsáveis, críticos e conscientes do seu papel no mundo. Para que esse processo aconteça, é essencial existir um ambiente onde a concentração, o respeito e a ordem se mantenham. A disciplina não é um luxo autoritário; é a condição primeira para que o ensino aconteça e para que cada aluno possa aprender ao seu ritmo e em igualdade de oportunidades.

É justamente convicto desta realidade que olho para os resultados do estudo TALIS 2024 (Teaching and Learning International Survey), divulgados pela OCDE em outubro de 2025, com apreensão. Efetivamente, o inquérito mostra que cerca de um terço dos professores portugueses se queixa de barulho, desordem e interrupções constantes nas aulas. Mais preocupante ainda: em comparação com 2018, os docentes afirmam perder mais tempo a tentar manter a disciplina do que a ensinar.

Esta realidade não é apenas um problema de gestão das escolas; é um sintoma de algo mais profundo. Quando o espaço da sala de aula deixa de ser um local de respeito mútuo e de atenção, todos perdem: a aprendizagem sofre, a autoridade do professor desgasta-se e a própria Escola, enquanto símbolo de conhecimento e de progresso, vê a sua imagem fragilizada.

A indisciplina, mais do que um conjunto de comportamentos incorretos, é um sinal de desorientação, por isso, numa sociedade em que tudo parece imediato e descartável, a Escola é, muitas vezes, o derradeiro lugar onde se tenta ensinar paciência, escuta e convivência. Alguém se imagina a viver num mundo em que a Escola se esvazie da sua missão? Se tal sucedesse, que tipo de cidadãos estaríamos a formar?

A procura de respostas não se esgota em punições severas ou discursos moralistas. O desafio é compreender as causas e enfrentá-las de forma coerente e partilhada. É certo que muitos alunos chegam à escola com realidades difíceis, carências afetivas ou económicas, e comportamentos que refletem essas feridas. Contudo, também é verdade que, nos últimos anos, a cultura escolar parece ter perdido parte da sua autoridade simbólica. As regras são frequentemente negociadas, o respeito pelo professor relativizado e o esforço nem sempre valorizado.

Talvez o ponto de partida esteja em revalorizar o papel da Escola e de quem nela ensina. Um professor não é apenas alguém que transmite conteúdos; é uma figura de referência, que orienta e desafia. Quando um professor estabelece regras, não o faz por capricho, mas porque acredita que só com limites claros se pode garantir um ambiente de trabalho e de respeito. Restituir-lhe essa autoridade pedagógica não significa voltar atrás no tempo, mas reconhecer que ensinar e aprender são atos que exigem estrutura, empatia e responsabilidade. Afinal, autoridade não se confunde com autoritarismo.

Por outro lado, a escola deve ser um espaço onde a comunidade (professores, alunos, famílias e instituições) assume responsabilidades partilhadas. É fundamental criar mecanismos de corresponsabilização, que envolvam todos os agentes educativos, e que reforcem a ideia de que a disciplina é um bem comum, não um fardo imposto.

É igualmente necessário que as respostas a situações de desrespeito e indisciplina sejam claras, rápidas e educativas, não apenas punitivas, o que pressupõe legislação adequada aos desafios dos novos tempos. O aluno deve perceber que os seus atos têm consequências, mas também oportunidades de reparação e crescimento. Só assim se constrói um verdadeiro sentido de responsabilidade.

Por último, mas não em último, o papel incontornável das famílias. Nenhuma escola pode, sozinha, carregar o peso da Educação. A influência das famílias é decisiva na formação do caráter e das atitudes dos jovens, sendo certo que é em casa que se aprendem as primeiras formas de respeito, de empatia e de responsabilidade. Quando a escola e a família caminham em sintonia, reforçam-se mutuamente; quando se afastam, o aluno perde referências. Mais do que impor ou vigiar, os pais e encarregados de educação devem ser parceiros ativos no processo educativo, acompanhando, dialogando e mostrando, pelo exemplo, que o conhecimento e o respeito são valores inegociáveis. Só assim se constrói uma verdadeira comunidade educativa, coesa e comprometida com o futuro.

Em síntese, a Escola, mais do que um edifício ou um programa curricular, é um espelho da sociedade; se nela o ruído, a desatenção e a falta de respeito são dominantes, talvez estejamos a ouvir o eco de uma sociedade que se esqueceu de ouvir. Assim, reencontrar o equilíbrio entre liberdade e autoridade, entre empatia e exigência, é o grande desafio educativo do nosso tempo. Educar é, afinal, o mais ambicioso projeto de futuro e o futuro começa (tantas vezes sem darmos disso conta) dentro de uma sala de aula.

Professor Jorge Pimenta

Adjunto do Diretor para o Ensino Secundário

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